Em Avesso do Avesso, publico um texto sobre a poesia de Mário Faustino, também uma alusão e uma homenagem — quem ler saberá por quê — a Paulo Francis, morto há 10 anos, no dia 4 de fevereiro de 1997. Francis descobriu Faustino antes — e escreveu a respeito. Como descobriu antes aspectos da alma profunda do Brasil, o que lhe rendeu a admiração de quem aprende com a grandeza alheia e o ódio mesquinho da ignorância auto-suficiente. Para ler o texto, clique aqui. Abaixo, um poema de Faustino.
Vida toda linguagem
Vida toda linguagem,
frase perfeita sempre, talvez verso,
geralmente sem qualquer adjetivo,
coluna sem ornamento, geralmente partida.
Vida toda linguagem,
há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome
aqui, ali, assegurando a perfeição
eterna do período, talvez verso,
talvez interjetivo, verso, verso.
Vida toda linguagem,
feto sugando em língua compassiva
o sangue que criança espalhará – oh metáfora ativa!
leite jorrado em fonte adolescente,
sêmen de homens maduros, verbo, verbo.
Vida toda linguagem,
bem o conhecem velhos que repetem,
contra negras janelas, cintilantes imagens
que lhes estrelam turvas trajetórias.
Vida toda linguagem –
XXXXXXXXXXXXXXX como todos sabemos
conjugar esses verbos, nomear
esses nomes:
XXXXXXXXamar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo
e deus talvez, e nada.
Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra a chuva,
tenta fazê-la eterna – como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe
à vida que é perfeita
XXXXXXXXXXXXXXlíngua
XXXXXXXXXXXXXXXXXXeterna.
Vida toda linguagem,
frase perfeita sempre, talvez verso,
geralmente sem qualquer adjetivo,
coluna sem ornamento, geralmente partida.
Vida toda linguagem,
há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome
aqui, ali, assegurando a perfeição
eterna do período, talvez verso,
talvez interjetivo, verso, verso.
Vida toda linguagem,
feto sugando em língua compassiva
o sangue que criança espalhará – oh metáfora ativa!
leite jorrado em fonte adolescente,
sêmen de homens maduros, verbo, verbo.
Vida toda linguagem,
bem o conhecem velhos que repetem,
contra negras janelas, cintilantes imagens
que lhes estrelam turvas trajetórias.
Vida toda linguagem –
XXXXXXXXXXXXXXX como todos sabemos
conjugar esses verbos, nomear
esses nomes:
XXXXXXXXamar, fazer, destruir,
homem, mulher e besta, diabo e anjo
e deus talvez, e nada.
Vida toda linguagem,
vida sempre perfeita,
imperfeitos somente os vocábulos mortos
com que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra a chuva,
tenta fazê-la eterna – como se lhe faltasse
outra, imortal sintaxe
à vida que é perfeita
XXXXXXXXXXXXXXlíngua
XXXXXXXXXXXXXXXXXXeterna.
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