terça-feira, 22 de julho de 2008

Meditação p/ declamar antes de falar em público

Mário Faustino
Em Avesso do Avesso, publico um texto sobre a poesia de Mário Faustino, também uma alusão e uma homenagem — quem ler saberá por quê — a Paulo Francis, morto há 10 anos, no dia 4 de fevereiro de 1997. Francis descobriu Faustino antes — e escreveu a respeito. Como descobriu antes aspectos da alma profunda do Brasil, o que lhe rendeu a admiração de quem aprende com a grandeza alheia e o ódio mesquinho da ignorância auto-suficiente. Para ler o texto, clique aqui. Abaixo, um poema de Faustino.



Vida toda linguagem

Vida toda linguagem,

frase perfeita sempre, talvez verso,

geralmente sem qualquer adjetivo,

coluna sem ornamento, geralmente partida.

Vida toda linguagem,

há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome

aqui, ali, assegurando a perfeição

eterna do período, talvez verso,

talvez interjetivo, verso, verso.

Vida toda linguagem,

feto sugando em língua compassiva

o sangue que criança espalhará – oh metáfora ativa!

leite jorrado em fonte adolescente,

sêmen de homens maduros, verbo, verbo.

Vida toda linguagem,

bem o conhecem velhos que repetem,

contra negras janelas, cintilantes imagens

que lhes estrelam turvas trajetórias.

Vida toda linguagem –

XXXXXXXXXXXXXXX como todos sabemos

conjugar esses verbos, nomear

esses nomes:

XXXXXXXXamar, fazer, destruir,

homem, mulher e besta, diabo e anjo

e deus talvez, e nada.

Vida toda linguagem,

vida sempre perfeita,

imperfeitos somente os vocábulos mortos

com que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra a chuva,

tenta fazê-la eterna – como se lhe faltasse

outra, imortal sintaxe

à vida que é perfeita

XXXXXXXXXXXXXXlíngua

XXXXXXXXXXXXXXXXXXeterna.


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